Debates sobre corpo e território, identidade de gênero, orientação afetiva e sexual encerram atividades na Casa da Resistência Feminista no X Fospa

Painel 5 realizado na Casa da Resistência das Mulheres, X FOSPA. Crédito: Fran Ribeiro/SOS Corpo.

Encerrando a programação dos painéis da Casa da Resistência das Mulheres no X FOSPA, foi realizado o quinto e última debate, nesse sábado, 30, com o tema “Identidade de gênero e orientação afetiva e sexual frente ao patriarcado, aos fundamentalismos e ao fascismo”. Esta mesa contou com a participação de Joriana Freitas Pontes, da AMB; Gaella Cari, da FEMUCARINAP do Peru; e Alane Reis, do Odara Instituto da Mulher Negra/AMNB.

“É preciso fortalecer um movimento que seja interseccional e que proteja todas nós. Quando fui expulsa de casa, imaginem o quanto a minha família sofreu, minha mãe, meus irmãos, todos nós sofremos. Imagina a dificuldade da minha mãe em me expulsar de casa, porque o padre disse que ela tinha que apartar a maçã podre para não contagiar os meus irmãos. A falta de educação sexual integral nos nossos países faz com que muitas famílias expulsem seus filhos de casa”, colocou Gaella Cari, da FEMUCARINAP do Peru, ressaltando a importância de um movimento ecologista que não seja machista, LGBTfóbico e excludente, “se continua sendo machista e continua impondo condições para exercer liderança, então não é suficiente para nós”, avaliou Cari. E concluiu: “Apesar de sermos duplamente violentadas, somos também duplamente mais fortes e pujantes. Porque essa luta não é só com coragem, é também pela alegria de lutar e ser respeitada”.

5º Painel realizado na Casa da Resistência das Mulheres, X FOSPA. Crédito: Azânia Leiro/AMB-BA.

Para Alane Reis do Odara/AMNB, nós precisamos procurar outros paradigmas culturais e pensar políticas que de proteção e defesa desses corpos. “Os nossos saberes, enquanto saberes da esquerda, estão relacionados com o que a gente tem dos cânones europeus. Não é pra jogar fora o que aprendemos, mas é importante aprender que a forma binária de pensar gênero e o exercício da sexualidade é de uma forma eurocentrada. As comunidades originárias não pensavam assim, isso vem do contato com a colonização. Temos que romper com nossos paradigmas eurocentrados pra pensar outros modelos de mundo e sociedade”, encerra Reis.

A mediação foi da ativista Mariela Jara, do Flora Tristán/Peru; e a relatoria ficou por conta de Rayra Lima, do FMAP/AMB; e Wilma Mendoza, da Confederación Nacional de Mujeres Indígenas de Bolivia/CNAMIB.

Nosso Corpo Nosso Território

Logo após o quinto painel, na Casa da Resistência das Mulheres, foi realizado o (re)lançamento da campanha internacional Em Defesa de Nossos Corpos e Nossos Territórios! que contou com a participação de Inara do Nascimento, mulher indígena do povo Sateré Mawé do Amazonas e militante feminista da AMB, Denisse Chavez e Cecilia Olea, do Peru, e a contribuição por vídeo de Janeth Lozano, da Colômbia e Clara Merino, do Equador.

Cecília Olea, do Peru, destacou em sua fala a centralidade do corpo como nosso primeiro território “o corpo tem a ver com o lugar desde onde habitamos, o lugar onde estamos, onde se constrói uma imagem nossa, e ao mesmo tempo onde construimos nossa própria imagem. O corpo tem a ver com as emoções”.

Lançamento da Campanha “Em defesa dos Nossos Corpos e Nossos Territórios” no X Fospa. Crédito: Fran Ribeiro/SOS Corpo.

Inara do Nascimento destacou que esta é uma campanha permanente e que a violação aos corpos das mulheres é uma violação ao território que esse corpo ocupa. Ela também convidou todas as presentes na atividade a formarem uma grande roda no centro da sala e continuou “nosso corpo é nosso primeiro território e a violação a esse corpo é a violação aos nossos territórios, nós que vivemos nas terras indígenas, nas cidades, no campo, nas águas, nas florestas. Nós mulheres indígenas, em 2019, fizemos um grito que puxou ainda um outro lugar, falamos também em espíritos, porque somos diversas e são tantas as nossas espiritualidades”.

Para Inara a provocação dessa campanha também é olhar o “sistema mundo” a partir de “nossos corpos e territórios”, que não devem ser explorados, vendidos e violados. “Nossos corpos tem que estar vivos em toda nossa plenitude”, defendeu.

Sobre a continuidade da campanha, Janeth Lozano, da Colômbia, destacou que se dá a partir do diálogo entre mulheres diversas e a ideia de difundir saberes, proteger os territórios, sendo a Amazônia o território de maior valor estratégico para a vida. “Há vários anos nos propomos iniciar a campanha internacional em defesa de nossos corpos e territórios, pra isso temos conversado entre nós, mulheres diversas – feministas, indígenas, campesinas e urbanas – a partir de distintos lugares temos nos encontrado para falar e para avaliar os danos, os efeito depredadores existentes, identificando as ameaças, os interesses”, apontou Janeth.

Resgate – A campanha nasceu no VII Fórum Social Panamazônico (FOSPA), realizado no Peru, em 2017, fruto da aliança entre organizações de mulheres indígenas, amazônicas e organizações feministas com o objetivo de enfrentar e combater a multiplicação das violências contra as defensoras dos territórios frente ao avanço das indústrias extrativistas. Além de seu relançamento na 10ª edição do FOSPA esta já foi lançada em diversos outros espaços feministas, como no 14º Encontro Feminista Latinoamericano e do Caribe (ENFLAC) realizado no Uruguai em 2017, no Fórum Social Mundial em 2018 no Brasil, no Foro Feminista contra o FMI e G20 na Cúpula dos Povos, na Argentina também em 2018 e por último no I Fórum Nacional de Mulheres Indígenas, em 2019.


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