Plenária dos Povos discute sobre situação da Pan-Amazônia na 7ª Marcha das Margaridas
A Plenária dos Povos “Mulheres da Amazônia pela Justiça Sócioambiental e pelo Bem Viver” foi mais um espaço potente da Marcha das Margaridas. Ela aconteceu na manhã do dia 15 de agosto no Pavilhão do Parque da Cidade, em Brasília, onde também foram realizadas diversas atividades da Marcha. O espaço contou com mulheres do campo, das florestas, das águas, dos maretórios e das cidades, que trocaram saberes e discutiram sobre suas lutas reforçando a aliança pela preservação e pelos direitos dos povos originários e das mulheres.
A Plenária foi coordenada por Ângela de Jesus, Presidente da Fetag do Pará, e entre os temas tratou da importância da Amazônia também para outros biomas, como a Mata Atlântica, a importância dos saberes tradicionais, o enfrentamento ao capitalismo neoliberal e a luta das mulheres pelo direito ao corpo e aos território.
Mística e cantos fizeram parte de diversos momentos da Plenária, reforçando que o fazer político das mulheres envolve a música, a cultura e a troca de saberes tradicionais. Dentre as primeiras falas, a Secretária Municipal de Meio Ambiente e Clima do Rio de Janeiro, Tainá de Paula, lembrou que foram as mulheres que venceram o fascismo nas eleições e chamou atenção para a articulação em torno de uma “comunidade afro-latina-indígena-brasileira”, destacando que o projeto capitalista “não nos cabe” e ressaltou que as mulheres do campo enfrentam a fome em nosso país.
Célia Regina, do Confrem, compartilhou as lutas das mulheres dos maretórios e chamou atenção para a parte institucional – com destaque ao Decreto 6040, sobre desenvolvimento sustentável dos povos tradicionais, que ainda não foi regulamentado. Ela ressaltou que o tempo dos povos dos maretórios é o tempo da maré a partir do calendário lunar, e não o tempo capitalista do horário comercial.
Já Eunice Guedes, do Fórum de Mulheres da Amazônia Paraense/AMB, destacou que são os povos tradicionais que mantêm 60% da Amazônia de pé”. Ela também denunciou a violência perpetrada contra mulheres indígenas e trouxe relatos da Cúpula da Amazônia com uma breve avaliação das contradições no processo dos Diálogos Amazônicos, “O afastamento da sociedade civil dos espaços de decisão da Cúpula foi negativo para a efetiva participação popular nas decisões tomadas e compromissos firmados, mas a oportunidade de encontro da sociedade civil pan-amazônica permitiu a criação e consolidação de redes na Pan-Amazônia, inclusive de uma Organização do Tratado de Cooperação Amazônica – OTCA Social”, afirmou.
A coordenadora executiva do MIQCB (Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu), Maria de Fátima, denunciou o uso de veneno por fazendeiros próximo aos babaçuais, o que interfere diretamente na produção de babaçu. O tema da agroecologia apareceu em diversas falas, ressaltando que a agricultura familiar de base sustentável traz renda e liberdade para as mulheres, além de alimentos de qualidade. Também compôs o debate Suli Baré, dos Amazonas, que hoje ocupa o cargo de Diretora do Departamento de Justiça Climática do Ministério dos Povos Indígenas (MPI). Em sua fala, Suli destacou que os povos originários são intrínsecos aos territórios e que desenvolvimento para indígenas é “floresta em pé e corpos em pé”.
Além dessas falas, a Plenária contou com intervenções de representantes da educação, de movimentos quilombolas, de movimentos de pescadoras e pescadores, de mulheres líderes sindicais e de mulheres que ocupam a política institucional.
O governo Lula foi colocado como aliado, mas foi recorrente nas falas a importância dos movimentos se organizarem para cobrar do Presidente que pare processos destrutivos iniciados antes de seu governo e que impeça governos estaduais de
violar direitos, em especial os das mulheres, de povos indígenas, de camponesas e camponeses e de comunidades tradicionais.
Ao final, as mulheres encerraram a plenária com muita esperança na luta coletiva e com o compromisso de seguirem aliadas e juntas na luta em defesa da Amazônia e dos povos tradicionais.
Texto de Tatiana Castelo Branco e revisão de Raquel Ribeiro e Cris Cavalcanti. Este conteúdo é parte da Cobertura Popular Feminista Colaborativa realizada pela Coletiva de Comunicação AMB, organizada especialmente para à 7ª Marcha das Margaridas.