Núcleo de Mulheres de Roraima pede justiça pelo assassinato de Angelita Proporita Yanomami

Fonte: Conselho Indigenista Missionário

Mais de 50 organizações da sociedade civil de Roraima assinam Carta Aberta que denuncia a extrema violência contra os povos indígenas e cobra justiça pelo assassinato da tradutora e interprete, Angelita Yanomami;

O Núcleo de Mulheres de Roraima (Numur) junto com outras 50 organizações da sociedade civil de Roraima se solidarizam com os familiares de Angelita Proporita Yanomami e com o povo Yanomami, e também denunciam a crescente violência contra as mulheres no estado exigindo que as autoridades investiguem o assassinato e faça justiça.

Desaparecida há mais de um mês, o corpo de Angelita foi encontrado com evidências de um brutal assassinato. A Yanomami era estudante universitária, “ela logo se formaria em odontologia e retornaria ao seu território para seguir trabalhando pela saúde do seu povo”, declarou o Numur. Sua luta e militância se junta ao esforço de indígenas Yanomami em atuar como tradutores e intérpretes no serviço de saúde em Roraima. Angelita é mais uma vítima dessa realidade que ceifa vidas e tenta destruir a esperança e a resistência.

Vigília em Boa Vista-RR. Foto: Núcleo de Mulheres de Roraima.

Confira Carta completa:

Pela vida de toda as mulheres JUSTIÇA PARA ANGELITA PRORORITA YANOMAMI

Nós, do Núcleo de Mulheres de Roraima (Numur), nos solidarizamos com os familiares e todo o povo Yanomami, pela morte precoce de sua filha ANGELITA PRORORITA YANONOMAMI, mulher indígena de apenas 35 anos, mãe de três filhos, sendo uma menina e dois jovens, trabalhadora em prol da vida e dos direitos das mulheres e de seu povo. Que ela seja guiada por Omana em sua passagem para habitar nas costas do céu e se juntar aos bores.

Estudante universitária, ela logo se formaria em odontologia e retornaria ao seu território para seguir trabalhando pela saúde do seu povo. Sua luta e militância se junta ao esforço de indígenas Yanomami em atuar como tradutores e intérpretes no serviço de saúde em Roraima.

Diante da crise humanitária e de saúde, criada pelo descaso e abandono nos últimos anos do poder público e o incentivo de atividades criminosas de garimpo no seu território, Angelita conquistou espaço na cidade como tradutora e intérprete da sua língua materna. Em Boa Vista, ela trabalhou na Casa de Saúde Indígena Yanomami (Casai-Y) e na maternidade Nossa Senhora de Nazaré (que há quase dois anos funciona em tendas de lona, em total desrespeito ao direito das mulheres em parir com dignidade), conhecimento que também fica um pouco órfão, pois não são tantos os Yanomami falantes da língua portuguesa.

Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança pública a violência contra as mulheres no Brasil aumentou em 2022. Nosso Estado segue sendo um dos piores para as mulheres viverem em segurança, só o ano passado a taxa de estupros foi quatro vezes maior que a taxa nacional. No fim do ano passado uma mulher Yanomami foi assassinada na esquina da Feira do Produtor Rural, em Boa Vista. Há poucos meses que uma mulher Yanomami foi estuprada nessa cidade por dois homens. Crimes noticiados na imprensa e em nota de organizações indígenas. O que se apurou até agora?

Invasores segue em terras Yanomami impondo violência e insegurança à vida das mulheres e ao seu povo. Na cidade as mulheres ficam expostas a violências e têm suas vidas ceifadas. Enquanto isso um congresso conservador quer impor mais violência a indígenas com o Marco Temporal e em Roraima o governo do Estado e outros políticos são amplamente conhecidos por serem contrários aos direitos indígenas.

Exigimos medidas urgentes do governo do Estado na apuração da morte de Angelita e de todas as mulheres que sofreram violência. Basta de violência, basta de derramar sangue indígena. Dizer não ao Marco temporal, é fazer a defesa da vida e dos territórios indígenas.

Justiça para Angelita Yanomami!

A dor de uma é a dor de todas as mulheres!

Pela vida das Mulheres! Queremos todas vivas!

Boa Vista, 02 de junho de 2023.