NOTA – Vidas Travestis Importam

No Brasil, as travestis e pessoas trans têm sido violadas nos seus direitos e vitimadas por ataques cruéis estimulados pela política conservadora e fundamentalista que vivenciamos no país. Na madrugada do dia 24 de junho de 2021, Roberta, travesti, negra e em situação de rua, teve 40% de seu corpo queimado por um adolescente no centro do Recife. Roberta segue hospitalizada em estado grave. Uma semana antes, no dia 18 de junho, Kalyndra Nogueira foi assassinada por seu companheiro e seu corpo só foi descoberto, sem vida, três dias após o ocorrido. Em março deste ano, a pernambucana Lorena Muniz foi abandonada inconsciente na sala de cirurgia de uma clínica estética em chamas em São Paulo e faleceu.

A violência contra travestis e mulheres trans é um problema antigo em Recife, somos a sétima capital em número de assassinatos da população trans, no país que mais mata essas mulheres do mundo. Crimes como esses acontecem sem que sejam notificados como transfemícidio pela Secretaria de Defesa Social e sem interesse algum da grande mídia. Há décadas, mulheres trans e travestis são assassinadas em vias públicas e, apesar das denúncias, o Estado não apresenta nenhuma política que garanta a sobrevivência dessas pessoas.

Basta! Pessoas trans não são seres humanos de segunda classe, a população trans existe e resiste e é dever de toda a sociedade e, principalmente, do poder público, garantir o direito básico de viver livre da violência e do medo a todas as pessoas.
É sintomático que Roberta tenha sido agredida de forma tão cruel na capital de Pernambuco, onde o fundamentalismo – em especial da bancada evangélica na alepe – que não respeita as diversidades e criminaliza tudo aquilo que é diferente do padrão hetero-cisnormativo tem recebido apoio da gestão municipal e estadual. Não podemos ignorar o fato de o agressor de Roberta ser um adolescente. De onde vem esse ódio?

É preciso construir uma educação baseada no respeito ao outro. Uma educação que liberta é aquela que estimula o diálogo. O que temos visto é o repúdio a qualquer tentativa de humanizar a educação de nossas crianças pela bancada da bíblia de Pernambuco. A Prefeitura e o Governo do Estado têm obrigação de preservar a vida, porém ao que parece só se manifestam e tomam alguma atitude quando pressionados publicamente. É preciso agir ANTES da tragédia! Queremos políticas públicas para a população trans, queremos projetos educacionais que ensinem o respeito, pois EXIGIMOS respeito a todas as pessoas trans, respeito aos seus nomes, aos seus corpos e às suas vidas!

O Fórum de Mulheres de Pernambuco se solidariza com as perdas de nossas companheiras trans e não admite a continuidade da cultura do ódio! Basta de violência, basta de medo! Pelo fim da transfobia e do transfeminicídio! Nos queremos vivas.

Dia 28 de junho, dia do Orgulho LGBTQIA+, convocamos todes, todas e todos a participar do ato contra o transfeminicídio e a transfobia, em frente ao Palácio das Princesas, às 15h!