Mirtes Renata, mãe de Miguel, e organizações parceiras mobilizam uma semana internacional por justiça pela vida das crianças negras

Atividades em diversos países marcarão um ano do caso Miguel, relembrando a ausência de justiça clamando justiça por Miguel e pela valorização da vida de crianças negras em todo o mundo.

Miguel Otávio Santana da Silva tinha cinco anos e veio a óbito no dia 2 de Junho de 2020, após queda do nono andar de um prédio de luxo, localizado no Bairro de Santo Antônio, em Recife, Pernambuco. Segundo a Polícia Militar do Pernambuco, o caso ocorreu às 13:00 horas, no Condomínio Píer Maurício de Nassau, conhecido localmente como “Torres Gêmeas”. Miguel era filho único de Mirtes Renata Santana de Souza. Ela trabalhava como empregada doméstica no quinto andar do prédio em que o filho caiu. Naquele dia – ápice do isolamento social provocado pela pandemia sanitária (COVID-19), Mirtes recebeu a ordem de comparecer à casa da patroa e, devido ao fechamento dos colégios e creches, precisou levar Miguel com ela. Enquanto a mãe cumpria a determinação de passear com o cachorro da família que lhe empregava, Miguel foi deixado aos cuidados de Sarí Gaspar Corte Real, a patroa de Mirtes. A criança começou a chorar, querendo a presença da mãe, e foi abandonada por Sarí – com extrema insensibilidade, negligência e crueldade – sozinha em um dos elevadores de serviço depois que ela apertou o botão do 9º andar. Miguel acabou se perdendo e saiu do elevador no nono andar. À procura da mãe, o pequeno escalou uma grade, caiu de uma altura de, aproximadamente, 35 metros. Ele foi levado ainda com vida ao hospital, apresentando diversas fraturas e sangramentos pelo corpo. Não resistiu e veio a óbito.

Em memória de Miguel, após um ano desde o acontecido, e também em memória de tantas outras crianças negras que perderam suas vidas até hoje, no Brasil e no mundo, como resultado de racismo e violência estrutural, acontecerá a Semana Internacional Menino Miguel, a partir de 30 de Maio até 5 de Junho de 2021. A agenda reúne atividades que acontecerão em diversos lugares ao redor do mundo, gerando reflexões sobre Direitos Humanos, racismo, gênero, classe e as crescentes desigualdades. Cerca de 20 países estão envolvidos. Organizações de países como França, Alemanha, Estados Unidos, Haiti, entre outros, participarão com programações locais, direcionadas ao público global.

Ato Justiça Por Miguel, Recife-PE. Foto: Rafaella Gomes

Mulher Negra, trabalhadora doméstica, chefe de família e mãe de Miguel, Mirtes ressalta que ações coletivas como esta, não permitem que casos como o de seu filho sejam esquecidos. “Toda essa articulação que está sendo feita é por amor ao meu filho e às crianças negras. Desde que descobri a verdade sobre a morte de meu filho, disse que moveria céus e terras para que o caso dele jamais caísse no esquecimento. Eu e os movimentos sociais do Brasil e do mundo estamos juntos, firmes e fortes, para mostrar a Sarí e ao judiciário do Brasil que queremos justiça pela morte de Miguel, que queremos justiça por nossas crianças negras, com casos que são tratados de forma indiferente e desigual no país e em outros locais. Nós, pessoas negras, somos seres humanos e merecemos respeito”, afirma.

Para acompanhar e participar de toda a programação, as pessoas interessadas devem acessar o site afroresistance.org/justicapormiguel