campanha “NEM PENSE EM ME MATAR”, um levante contra os feminicídios no Brasil

Na busca de incidir sobre o contexto de aumento dos casos de feminicídios no Brasil foi lançada, nesta quinta (25), a campanha #NemPenseEmMeMatar. Baseada no mote “Quem Mata uma Mulher Mata a Humanidade!” – parte do trecho do samba “Corpo Meu“, composta por Cris Pereira e interpretada por Fabiana Cozza – a campanha e a canção foram lançadas juntas em live transmitida nas redes sociais do Levante Feminista.

O Levante Feminista Contra o Feminicídio é uma frente suprapartidária formada por movimentos feministas, organizações e mulheres diversas que tem como objetivo sensibilizar, mobilizar e denunciar à sociedade o aumento dos casos de femicidídio, o descaso e a omissão do Estado, e ainda exigir medidas efetivas de proteção à vida mulheres.

O manifesto construído de forma coletiva e tornado público desde o dia 12 de março, pontua de forma contundente a existência de uma “cultura de ódio” direcionada às mulheres brasileiras, que precisa chegar ao fim. A prática do crime de feminicídio “nunca esteve tão ostensiva e extremista” quanto agora, no governo de Jair Bolsonaro e sobretudo no contexto da pandemia do novo coronavírus. Assine AQUI o manifesto e confira, abaixo, seu texto na íntegra:

Quem Mata Uma Mulher Mata a Humanidade

Nós, mulheres feministas brasileiras, negras, indígenas, pardas, brancas, quilombolas, periféricas, convivendo com deficiências, lésbicas, bissexuais, cis e trans, das cidades, do campo, das águas e das florestas, nós, mulheres mães, parteiras tradicionais, trabalhadoras precarizadas, hiperexploradas e desempregadas, nos levantamos, em um ato de revolta, contra o feminicídio no Brasil e exigimos seu fim. 

Estamos em luta contra o assassinato de mulheres que aumenta desde o golpe de 2016. A cultura do ódio às mulheres, a prática do feminicídio criada pelo patriarcado nunca esteve tão ostensiva e extremista. 

A matança de mulheres é um verdadeiro genocídio que se soma ao genocídio negro e indígena, e ao genocídio sanitário no contexto da pandemia que ceifa milhares de vidas sob o descaso do desgoverno. 

No primeiro semestre de 2020 foram mortas 648 mulheres brasileiras, a maioria negras e vivendo em duríssima desigualdade social. Os matadores são homens que não admitem a autonomia, a igualdade e a liberdade das mulheres. São machistas, homens violentos que querem a redomesticação e o afastamento das mulheres da vida pública. São machistas que usam a violência física, psicológica, moral, sexual e patrimonial contra mulheres e seus filhos até o extremo, que é o ato do feminicídio.

A escalada de ameaças, humilhações e ataques que culminam no feminicídio íntimo, aquele que acontece dentro de casa, se repete no feminicídio político, que aniquila as mulheres, líderes de esquerda e defensoras de direitos humanos, bem como mulheres indígenas, negras e trans que são alvo preferencial da atual necropolítica de aniquilação.

A violência contra as mulheres é um problema estrutural da cultura machista, racista e homo-lesbo-transfóbica, que nega às mulheres o direito a uma vida livre e plena.

Ideias e atitudes misóginas transformaram-se em comportamento aceito e legitimado pela sociedade, contaminando o Executivo, o Legislativo e o Judiciário capaz de sentenças sexistas e de ressuscitar arcaicos argumentos da “legítima defesa da honra” e da “passionalidade” como uma espécie de “mérito” para absolver criminosos. 

Isso confirma a negligência e inoperância do Estado Brasileiro no enfrentamento à violência contra as mulheres. 

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O clima favorável ao extermínio, que dá aos homens licença para matar, é efeito desse Estado que, em conluio com forças religiosas ultrarreacionárias, vem destruindo direitos duramente conquistados pelas mulheres. 

O Estado feminicida vem impedindo a prevenção à violência contra mulheres e meninas, deixando-as abandonadas à própria sorte, entregues a abusadores e violentadores que acabam por se converter em seus assassinos. 

Medo de punição e de morte, alimentados no contexto da cultura do estupro e do assédio, impedem mulheres de relatar agressões praticadas por atuais e ex-maridos, namorados e parentes. 

Com a má intenção de armar milicianos e apoiadores, o governo fascista e machista tem facilitado a compra e o porte de armas de fogo e munições em apoio à indústria neoliberal de armas. Dentro das casas, sob o signo da violência patriarcal, as mulheres correm o risco de um banho de sangue ainda maior. 

Em atos de destruição das políticas para as mulheres, o governo reduziu o orçamento para o desenvolvimento de ações de igualdade de gênero – executando menos de 50% do previsto para 2020. 

O empobrecimento e a vulnerabilização das mulheres as expõe ainda mais à política machista da morte. 

As que se insurgem permanecendo na resistência ao machismo e ao racismo, como Marielle Franco, estão na linha de tiro de assassinos impunes. 

A ascensão de grupos neofascistas, de fundamentalistas religiosos, de latifundiários e extrativistas que propagam ideias e atitudes machistas e racistas, coloniais e de subordinação e dominação das mulheres, precisa parar por aqui. 

Aos setores democráticos da sociedade, que se unem contra o fascismo, um alerta: é imprescindível que reconheçam que as violências contra as mulheres são uma desafiadora questão a enfrentar.    

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O que precisamos nesse momento é de programas consistentes de enfrentamento à cultura patriarcal e racista que leva ao feminicídio. Do contrário, não haverá paz no Brasil. É evidente que o machismo, os ataques brutais e a matança de brasileiras arruínam a democracia.

O Brasil que nós mulheres projetamos em nossa utopia social tem a esperança feminista, fruto da ético-política feminista que defende o direito à vida. As vitórias e conquistas de nossas vizinhas latino-americanas nos inspiram. O direito ao aborto e outras políticas de autonomia na Argentina e no Uruguai nos dão força para seguirmos organizando as lutas urbanas e campesinas, nas bordas dos rios, em cada feira, em cada rua, beco, em cada fábrica, em cada escola, nos caminhos onde nos levantamos por vida e liberdade. 

É imprescindível a união coletiva para lutar por uma verdadeira reforma no Sistema Judiciário e nos órgãos de segurança pública, pela inclusão no âmbito escolar da temática dos direitos humanos, gênero e raça na expectativa de desconstruir de vez as ideologias patriarcais capitalistas e racistas que sustentam a violência contra nós, mulheres, em nome de uma noção arcaica de família.

Aqui, em Manifesto, defendemos a democracia popular, onde o Parlamento, o Sistema de Justiça e o Executivo, assim como outras instâncias de poder e decisão, possam ser mobilizadas e atravessadas pelo legado feminista, para conter o assassinato de mulheres. 

Por esta razão é que, em público, em nosso nome e em nome daquelas que não estão mais entre nós para gritar, pois foram assassinadas, nós dizemos CHEGA DE FEMINICÍDIO! 

Nossa luta tem como objetivo o fim da violência promovida pela cultura feminicida patriarcal, racista e capacitista. 

Em memória de Marielles, Elisas, Elianes, Ângelas, Margaridas, Socorros, Marias e centenas de milhares de mulheres que tombaram sob a sanha assassina do patriarcado, firmes na resistência, acolhendo todas as pessoas indignadas com a tragédia da violência contra mulheres como nós, nos juntamos para dizer aos homens embrutecidos e truculentos, para dizer aos assassinos impunes:


#NemPenseEmMeMatar NemPenseEmNosMatar QuemMataUmaMulherMataaHumanidade

LEVANTE FEMINISTA CONTRA O FEMINICÍDIO

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