Acesso à internet e soberania digital no campo

Como parte das atividades da 7ª Marcha das Margaridas aconteceu na tarde da última terça, 15 de agosto, a oficina temática “Mulheres do campo, das florestas e das águas entrelaçadas em redes livres: Acesso à internet e soberania digital”, que contou com mediação e participação de Débora Guaraná (AMB), Laila Almeida (Maria Lab) e Natália Lobo (SOF).

Oficina “Acesso a internet” na Marcha das Margaridas 2023. Foto: Cris Cavalcanti/AMB.

O objetivo da oficina foi o de estabelecer um diálogo sobre o acesso das mulheres à internet e a necessidade da luta por políticas públicas para ter acesso à comunicação nos territórios rurais. A atividade iniciou com um exercício sobre o caminho da internet e como ele funciona até chegar em cada casa. A geógrafa Laila Almeida, da Maria Lab – organização feminista que trabalha pela valorização do cuidado nos meios digitais, promovendo um pensamento interseccional entre política, gênero no desenho de tecnologias – demonstrou com tarjetas e imagens o percurso físico e estrutural da internet, que conta com uma indústria responsável pelas muitas etapas que envolvem equipamentos, servidores, provedores, além de grande estrutura de cabeamento submarino que parte do norte global com complexidade e robustez.

A internet chega ao sul global de forma precária, sem atender a muitas pessoas, especialmente a comunidades rurais, indígenas e quilombolas, tornando ainda mais evidente as desigualdades e mostrando que está a serviço de interesses comerciais de grandes corporações que dominam o mercado de tecnologia e comunicação.

Natália Lobo, da SempreViva Organização Feminista (SOF) – que trabalha o trinômio Feminismo, Movimento Social e Transformação Social – fez um paralelo entre a indústria da internet e a indústria do agronegócio, as quais deixam populações reféns de tecnologias de alto custo e que não podem ser reproduzidas, apontando que as tecnologias livres e acessíveis são fundamentais tanto para a soberania alimentar como para soberania de comunicação de dados.

Oficina “Acesso à internet” na Marcha das Margaridas 2023. Foto: Cris Cavalcanti/AMB.

Déborah Guaraná, militante feminista da Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB) e educadora do SOS Corpo, lembrou que para além da dificuldade de acesso e mercantilização dos nossos dados pelas chamadas Big Techs, ainda há as desigualdades relacionadas ao uso de tecnologias, pois grande parte das mulheres enfrentam dificuldades no manuseio destes equipamentos. Também foi trazido que além desses fatores que impedem a soberania digital, temos visto um crescimento avassalador nos últimos anos da indústria da desinformação, que promove notícias falsas, o que junto com as questões já tratadas, apresenta um cenário tenebroso desestruturando, ameaçando e conturbando sociedades democráticas pelo mundo.

Contudo ainda há espaço para a luta política. Foi destacado na roda que no Brasil há o Comitê Gestor da Internet (CGI), que é um dispositivo de regulação social importante e deve ser ocupado por mais mulheres, sobretudo rurais, indígenas e quilombolas, com vistas a garantir uma internet inclusiva e soberana, que possibilita o acesso a outros direitos. São muitos os desafios nesse campo, e é preciso organizar a luta por alternativas de tecnologias livres que possibilitem acesso amplo e irrestrito, a exemplo das redes comunitárias, nos diversos territórios.

Oficina “Acesso a internet” na Marcha das Margaridas 2023. Foto: Cris Cavalcanti/AMB.

Texto de Pétalla Menezes e revisão de Cris Cavalcanti. Este conteúdo é parte da Cobertura Popular Feminista Colaborativa realizada pela Coletiva de Comunicação AMB, organizada especialmente para à 7ª Marcha das Margaridas.